Por muitos anos a artesã Maria Lenilde Migueis deixou de trabalhar para cuidar do filho Kleyson, de 22 anos. Durante a infância, o jovem foi diagnosticado com deficiência intelectual. A partir desse momento, dona Maria passou a procurar atendimento especializado para o filho, que na época tinha 6 anos de idade. “Eu me preparei para a situação. Não foi fácil. Precisei parar com todas as minhas atividades e passei a me dedicar exclusivamente para ele”, conta a mãe.
Há mais de um ano, mãe e filho frequentam o Centro-Dia de Referência, unidade do Sistema Único de Assistência Social que oferta o Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência e suas Famílias. No Pará a única unidade fica no bairro da Cremação, na capital. O espaço, que é mantido pela Prefeitura de Belém e gerenciado pela Fundação Papa João XXIII (Funpapa), existe desde 2013 e foi referenciado em setembro passado pelo secretário nacional de promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da Secretaria de Direitos Humanos, Antonio José Ferreira.
O local tem capacidade para atender diariamente até 30 pessoas. Os usuários, com idades entre 18 e 59 anos, recebem apoio em atividades cotidianas como arrumar-se, vestir-se, comer, fazer higiene pessoal, locomover-se, além de auxílio para o desenvolvimento pessoal e social, que lhes garanta viver da forma mais autônoma possível.
Também são prestadas orientação e apoio, inclusive no domicílio, aos cuidadores da própria família, incentivando a autonomia da pessoa com deficiência e de seu cuidador familiar, com a inclusão social dos mesmos.
“Essa assistência é fundamental porque muitos usuários não podem ir ao centro principalmente por questões de acessibilidade. Às vezes o cuidador tem outras tarefas e se torna difícil conciliar. Fora isso, existem situações que só podem ser visualizadas dentro do contexto familiar. As visitas domiciliares nos prermitem uma visão mais global de cada caso”, explica a terapeuta ocupacional e coordenadora do Centro-Dia de Referência, Vanessa Furtado.
Além das visitas e atendimentos domiciliares, o espaço oferece atendimento individualizado, acolhimento, e avaliação psicossocial e funcional.
Atualmente dona Maria Migueis já retornou ao trabalho como artesã enquanto o filho Kleyson desenvolve atividades no Centro-dia. “Muitas mães como eu não tem com quem deixar seus filhos. Eu pedi um espaço como esse e Deus enviou essas pessoas. Estou muito satisfeita e muito feliz”, comemora.
“Meu filho Marco Antônio era muito agressivo. Hoje, ele já tem condições de conviver melhor em sociedade. Vivia no hospital com ele. Agora, já não lembro mais a última vez que ele precisou de atendimento médico”, relata a funcionária pública, Gina dos Santos que também recebe assistência no local.
O centro desenvolve semanalmente diversas atividades como roda de convivência com as famílias e usuários, grupo de atividades corporais, grupo de atividades manuais, oficina de linguagem e comunicação, orientação alimentar, orientação vocacional para as famílias, oficina de beleza para as famílias e esclarecimentos sobre direitos enquanto cidadãos.
A psicóloga Rosângela Trindade é responsável em facilitar o diálogo entre as famílias. “Aqui tratamos da saúde emocional das famílias. Quem cuida de si se sente mais disposto a continuar a cuidar do outro”, explica a profissional.
Cerca de 20 usuários estão sendo acompanhados pela equipe multidisciplinar de cuidadores, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogo, psicóloga e fisioterapeuta. O Centro-dia de Referência faz parte do sistema de Proteção Social Especial de Média Complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), conforme Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais/2009.
Serviço: O Centro-dia fica localizado Rua dos Caripunas, entre 9 de Janeiro e Três de Maio, nº 3269, no bairro da Cremação, e funciona no período das 08h às 18h, de segunda a sexta-feira.
Texto: Denise Soares