É da sacada de casa que a dona de casa Graça Luz, de 66 anos, contempla a paisagem da avenida Bernardo Sayão, sempre que tem um tempinho livre entre os afazeres do lar e os cuidados com o marido recém-operado do coração. O casal vive há mais de 40 anos na área, onde criou os três filhos em uma realidade completamente diferente da que desfruta hoje. “O que a gente via era aquele canal cheio de lixo, muita sujeira”, conta dona Graça que lembra dos alagamentos que levaram a casa anterior da família ao fundo e trouxeram muitos transtornos e dores de cabeça. “Hoje eu gosto de ver o gramado, as plantas, a avenida aqui na frente”, comemora pisando firme no chão de concreto inaugurado no dia 05 de julho deste ano.

Um mês depois da inauguração e entrega do novo trecho da avenida Bernardo Sayão, entre José Bonifácio e Augusto Corrêa, para a população de Belém, o lugar vem sendo mantido como no primeiro dia e a manutenção e fiscalização do espaço vem tendo a parceria dos moradores e comerciantes da área. O seu Manuel da Conceição, de 73 anos, por exemplo, é mecânico, mora e trabalha na avenida. Ele se tornou um padrinho voluntário dos 200 pés de ipê plantados ao longo de toda a extensão da via e diz que a família cuida das plantas porque quer ver a via florida e colorida. “Com a minha idade eu não sei se vou ver, mas quero que fique bonito, que venha o progresso, porque o progresso traz movimento e mais segurança para nós”, avalia.

A professora Franciele Rego, de 57 anos, não mora na área, mas vem de longe fazer caminhadas por orientação médica. “Eu preciso controlar o colesterol e triglicerídeos e venho de manhã cedo. A gente vive na insegurança e aqui, o espaço é bom e a gente se sente segura. Tem espaço e bastante movimento”, pondera. O açougueiro Charles Ramos, de 48 anos, também aproveita o início das manhãs para se exercitar. “Depois que fizeram isso aqui parou mais a criminalidade, tem onde caminhar, dá pra fazer novas amizades”.

O trecho da avenida Bernardo Sayão faz parte de um contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), firmado em 2010, no valor de R$ 128 milhões. O contrato abrange também ações no canal da Três de Maio.

Somente na Bernardo Sayão, o investimento chega a R$ 86 milhões. O antigo canal a céu aberto que cortava toda a extensão da via passou por um complexo trabalho de engenharia e foi fechado por completo no trecho, com a instalação de galerias. Uma rede de microdrenagem também foi garantida para canalizar a água das vias da área para as novas galerias subterrâneas. Para garantir acessibilidade, a Prefeitura construiu dois mil metros de calçadas com piso tátil e mil metros de ciclovia. A sinalização da via já foi concluída e atendeu projeto técnico elaborado pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), com melhorias na malha viária da capital em uma importante região de trânsito de Belém, pela grande concentração de portos.

Apesar do projeto entregue, a Comissão de Acompanhamento de Obra, formada por moradores da área quando a obra começou, permanece atuando, agora como fiscais por conta própria para cuidar do novo patrimônio da comunidade. Dona Dolores Brito, de 61 anos, integra a CAO e garante que a comunidade está empenhada em manter a avenida sempre bonita. “Dia de domingo aqui fica cheio de moradores, as mães passeiam com bebês, crianças brincam, é um lugar de lazer seguro para as famílias”, destaca Dolores, sobre a apropriação do espaço que, segundo ela, antes muitos não faziam questão de frequentar.

Apesar da grande intervenção no trecho da Bernardo Sayão, uma das prioridades do projeto foi promover o remanejamento mínimo, o que garantiu mais de 90% da população da área ainda morando no local. As pessoas que passaram pelas dificuldades, agora podem desfrutar do resultado da obra e não sair da área no melhor momento do espaço, graças aos ajustes realizados para minimizar a retirada de famílias para a execução das obras.

Mais obras – As obras de saneamento da Bacia da Estrada Nova seguem agora para a Sub-bacia II com investimentos de 250 milhões de dólares em saneamento e urbanização. Os projetos vão alcançar 13 bairros de Belém.

Texto: Tania Menezes