Quando uma doença é cercada de mitos e preconceito, a melhor forma de vencê-la é a informação. Por isso, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) tem investido na orientação de adultos e crianças sobre a tuberculose. Neste dia 24 de março, data da descoberta do bacilo causador da doença, pelo pesquisador Robert Koch, é mais uma oportunidade para alavancar a discussão sobre o tema.
Na Escola Municipal Antônio Armando Brasil, por exemplo, dezenas de crianças participaram durante a última semana de uma gincana alusiva ao Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose. Na faixa etária de 8 a 10 anos, os pequenos ouviram atentamente a equipe da Sesma. Um cineminha, seguido de um jogo de tabuleiro gigante, baralho, jogo da memória e ainda gibis sobre o tema foram suficientes para que Jhuli Vanessa, 9 anos, aluna do 4º ano, entendesse os sintomas da tuberculose. “Temos que ficar alerta com a tosse. De repente é uma coisa grave e a gente não sabe. Em casa, vou falar isso tudo para o papai e a mamãe”, contou.
Aluna do 3º ano, Anne Gabrielly, 8 anos, aproveitou a ocasião para fazer perguntas e juntar material informativo para levar para casa. “Aprendi que a tuberculose é uma doença marcada pela tosse, pelo catarro e a pessoa fica fraca. Vou ler mais para aprender mais”, destacou.
Para Bruno Pinheiro, coordenador da Referência Técnica de Tuberculose e Hanseníase da Sesma, a semana alusiva envolve e intensifica várias atividades tanto nas unidades de saúde quanto na comunidade. “Nas unidades de saúde já existe um trabalho diário para a orientação sobre a tuberculose. Por isso, estamos investindo na informação para as escolas. Não há melhor multiplicador do que uma criança, que presta atenção em tudo o que falamos e multiplica essa informação dentro de casa, que é onde nós queremos que chegar para que possíveis sintomáticos sejam alertados sobre a doença e procurem a unidade de saúde para diagnóstico e tratamento”, explicou Bruno.
Em 2016, em Belém, foram diagnosticados 1.323 novos casos, gerando uma taxa de incidência de 91,49/100.000 habitantes, que posiciona o município como a 4ª maior incidência entre as capitais do Brasil. "Nos evidenciando uma realidade de aproximadamente 91 pessoas acometidas pela doença a cada grupo de 100 mil, sendo que as pessoas em idade produtiva (entre 18 e 55 anos) são as mais afetadas. O bairro com maior número de casos é o Guamá", alertou Bruno.
Atualmente, todas as unidades de saúde de Belém possuem o tratamento para a tuberculose, com médicos e enfermeiros que são capacitados anualmente para atuar na assistência ao caso de tuberculose e medicação garantida e gratuita durante todo o período do tratamento, que é de, no mínimo, seis meses. Há ainda uma rede de 11 laboratórios para dar celeridade ao diagnóstico com exame de escarro. “Da chegada ao serviço até o início do tratamento, levamos de um a cinco dias. Pois, temos duas unidades polo (Marambaia e Guamá) que possuem a máquina do TRM, e realizam o Teste Rápido Molecular, cujo resultado sai em duas horas e em até 24h o paciente pode iniciar o tratamento. Fazendo isso, estamos agindo com máxima brevidade para bloquearmos a cadeia de transmissão, orientando para que o paciente realize o tratamento regularmente e não o abandone, porque pode provocar outras consequências, como a resistência da bactéria aos medicamentos do esquema básico, expondo a si mesmo e as pessoas próximas a um risco maior”, frisou Bruno.
A taxa de abandono do tratamento em Belém ainda é considerada alta. Está em torno de 10%, quando o recomendado pelo Ministério da Saúde é de 5%. A maioria dos que deixam de se tratar são usuários de álcool e/ou outras drogas. Para evitar esse abandono, a Sesma incentiva o Tratamento Diretamente Observado, ou seja, que o paciente vá diariamente à unidade de saúde ou que alguém da família se responsabilize pela supervisão do paciente, para que o medicamento seja tomado ainda em jejum. Também, busca-se identificar casos de tuberculose em pessoas em situação de risco e adaptar os cuidados da saúde, conforme suas necessidades, tais como pessoas privadas de liberdade, drogaditos, moradores de rua, desnutridos, imunodeficientes, doentes crônicos, que são mais suscetíveis a contrair a doença.
A dona de casa Christiane Corrêa, 38 anos, começou a sentir algumas dores em meados de 2017. Por ter formação em técnico de radiologia, ela logo desconfiou de que poderia ser tuberculose. Procurou o serviço de saúde e, após um raio-x e uma tomografia, teve a confirmação da doença. “Recebei todos os encaminhamentos e iniciei logo o tratamento. A minha tuberculose é pleural, que não transmite e é mais fácil de curar. No início fiquei triste, mas como tinha informação, foi tudo superado. A gente não pode é deixar de lutar”, contou a dona de casa que estava em tratamento na Unidade Municipal de Saúde do Guamá, mas na última quarta-feira, 21, recebeu alta por cura.
Christiane era uma dos quase cem pacientes atendidos na UMS Guamá, sob o acompanhamento do enfermeiro Cristian Ferreira, que há quatro anos é o responsável pelo programa de tuberculose na unidade. “Damos um tratamento individualizado e coletivo. Individual porque cada paciente tem sua história, sua dor, seus problemas. E coletivo porque fazemos rodas de conversa e temos um grupo no WhatsApp para também dialogarmos sobre o tema”, destacou. As pessoas próximas aos pacientes e com contato prolongado também devem fazer exames para identificação ou não da bactéria.
O enfermeiro acrescentou ainda que o primeiro passo para o sucesso do tratamento é educar o paciente, dizer o que ele tem, como ele pegou, como ele transmite e o que pode acontecer se ele abandonar o tratamento. “A educação em saúde é fundamental. Um paciente educado fica seguro e pode acalmar as pessoas do seu convívio (familiares e amigos)".
Os pacientes de tuberculose devem receber uma atenção integral, que inclui a melhoria dos hábitos alimentares, acompanhamento adequado do tratamento e apoio psicológico. Busca-se que o paciente seja integrado em programas de apoio de proteção social, promovendo a participação da comunidade e da sociedade para o controle da tuberculose. "Esse envolvimento é fundamental para vencer o preconceito que ainda cerca a doença. Mas a melhor forma de prevenção é a informação para que todos possam conhecer e entender a tuberculose, saber que ela tem cura e ficar ligado no sinal de alerta. Tosse prolongada por três semanas já é um sintoma para procurar um serviço de saúde. Quanto mais cedo for identificado, mais rápido o paciente inicia o tratamento, quebra a cadeia de transmissão e aumentam suas chances de cura", conclui o coordenador da Referência Técnica.
Texto: Paula Barbosa